CONCURSOS
PÚBLICOS: 14 ARGUMENTOS PARA POTENCIAR AS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZADO
Atahualpa
FernandezÓ
“El
sentido de las cosas yace, no en las cosas,
sino en nuestra actitud hacia ellas”.
ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY
Imaginemos, por um momento, uma
situação em que escutamos alguém fazer o seguinte comentário: “Já faz algum tempo que estou estudando para
fazer concursos e, depois de já ter fracassado em todos o que fiz até agora, às
vezes me encontro sem forças, temeroso e algo desestimulado para enfrentar-me a
outros concursos. Sinto como se meu cérebro não fosse capaz de reter os dados
que leio e estudo. Por mais horas que intento memorizar ou compreender a
matéria, aos poucos dias a acabo esquecendo, repasso de forma quase compulsiva
o que já havia estudado e, o que é pior, com essa persistente falta de
motivação, na maioria das vezes não logro um bom ritmo de estudo. À medida que
passa o tempo me frustro cada vez mais pela quantidade de matéria que ainda me
falta por estudar e pela sensação de que nada
acontece durante todo o tempo que estou me dedicando integralmente a isso. Já
provei de tudo: frequentando cursos preparatórios, fazendo resumos, esquemas,
marcando livro com anotações, vendo aulas gravadas sobre os temas que estudo,
rezando, fazendo promessas…, mas parece que não consigo melhoras. O grave é que
já começam a rondar por minha cabeça pensamentos de abandonar meus sonhos, de
desistir de meu objetivo de aprovar em um concurso público, de procurar um
trabalho que me dê um retorno mais imediato, de reconhecer que não tenho
talento, que sou um incompetente comparado com os que conseguem aprovar, que
não tenho sorte ou que a culpa, depois de tudo, não é minha..., enfim, que definitivamente não posso com isso. E
tudo isso faz com que meu estado de ânimo caia ainda mais, minha atenção se
disperse, minha desesperança aumente e tenha que dar por mal aproveitada outra
jornada de estudo”.
Apesar de toda a vulnerabilidade e
prejuízo gerados por esse tipo de tormenta emocional a que todos estamos
sujeitos, é muito provável que a ninguém se lhe ocorra pensar o seguinte: “Me pergunto que poderia fazer hoje para
desistir de tudo, arrasar-me um pouco mais, obstaculizar meus esforços,
impedir-me aprender e/ou limitar meus logros”. Por certo que não. O que
seguramente pensa é: “Faria qualquer
esforço, daria qualquer coisa, para conseguir alcançar meu objetivo e realizar
meus sonhos”.
O problema é que algumas das coisas
que pensamos, sentimos ou fazemos são contraproducentes. Com demasiada frequência,
os conselhos que recebemos, os juízos de valor e as crenças que formulamos
sobre nós mesmos para motivar-nos, de forma voluntária ou involuntária, nos
transmitem a mensagem equivocada. E uma vez que atuamos como se soubéssemos de que modo funciona nossa mente (isto é, muito
melhor do que conhecemos o funcionamento de nossos celulares) e por que nos comportamos da forma em que o fazemos, geramos
determinadas crenças pessoais das que podemos ser ou não conscientes, mas que
afetam em grande medida a nossos desejos e nossas possibilidades de torná-los
realidade. De fato, as crenças que criamos sobre nós mesmos (mentalidade) impregnam
e influem de maneira profunda em nossas vidas. Tomadas em seu conjunto, definem
quem fomos, quem somos e quem seremos.
Mas antes de explorar (e sugerir) algumas
alternativas destinadas a superar ou minimizar as dificuldades encontradas por
aqueles que vivem esse tipo de experiência (concursos públicos), permitam-nos
abordar brevemente, e com um pouco mais de detalhes, os dois tipos de mentalidade
mais persistentes que moldam nossa vida e como afetam a forma como governamos
nossas atitudes e afrontamos os retos a que estamos dispostos a superar. Existem
aqueles que, frente a determinados reveses da vida, colocam imediatamente em
questão sua capacidade e desenvolvem um sentimento de amargo fracasso e passiva
resignação; e aqueles que, inclusive (ou especialmente) quando as coisas não
vão bem e se sentem abrumados, se mostram dispostos a correr riscos, a
enfrentar-se a retos, a confiar no esforço e a seguir trabalhando para superar
os obstáculos.
Em um desses dois mundos, o fracasso (
de não ser aprovado) deixa de ser uma ação (fracassei)
e converte-se em uma identidade (sou um
fracassado). É o sentimento de não ter valido a pena tanto “sacrifício”, de
haver perdido tanto tempo estudando; equivale a não ser inteligente ou a não
ter talento. No outro, o fracasso é simplesmente uma ação, um não haver (ainda)
estudado o suficiente ou não ter alcançado a totalidade do próprio potencial. É
não alcançar, temporariamente, o que se valora. É a convicção de que esforço é o que lhes faz inteligentes e
lhes dá talento. Os primeiros temem aos desafios e se preocupam como lhes
julgarão os demais; os segundos, o que lhes preocupa é melhorar e jamais rechaçam
a oportunidade de utilizar um eventual fracasso para continuar aprendendo.
Também as reações divergem: enquanto
os segundos tratam de fazer alguma coisa a respeito para solucionar seus
problemas com determinação, os primeiros deitam a perder-se na miséria e recriam-se
em sua amargura, limitam-se a tratar de reparar a auto-estima buscando
comparar-se com pessoas que rendem menos que eles, de culpar aos demais ou
encontrar escusas que minimizem seu sofrimento.
Por que determinadas pessoas se
comportam dessa maneira e por que vêem a vida dessa forma? Uma crença distorcida
que temos acerca de nós mesmos, que gera uma espécie de impotência aprendida,
que nos impede de controlar nosso presente e a renunciar ao desejo de
possibilidades futuras; uma mentalidade não somente errônea e fatalista, senão
também perigosa e que desvirtua a percepção que temos de nós mesmos. Aqui, a
resignação e o cinismo se impõem à esperança, ao otimismo e à confiança no
futuro.
Mas a alternativa existe: toda e
qualquer idéia ou mentalidade que temos sobre nós mesmos não são mais que
crenças, um estado mental psicologicamente construído. São crenças poderosas, é
verdade, mas não passam de meras invenções da mente humana, e a mente, já
sabemos de sobra, pode cambiar-se. Ademais, trata-se de um princípio moral universal:
quanto mais poder se tem sobre alguém, maior é o dever de usá-lo com
benevolência. E qual é a pessoa sobre a que temos maior poder? Nós mesmos, o que
somos no presente vivido e o que seremos no futuro imaginado. Somente nós
podemos eleger interpretar o mundo da forma que nos seja mais útil e produtiva,
somente nós podemos fazer com que nosso presente tenha sentido e que nossos
objetivos tenham prioridade. Se não o fazemos, quem o fará por nós? Se não o
fazemos agora, quando o faremos?
A regra é simples: nosso estado
presente depende de como reconstruímos o passado, como interpretamos o
presente e como construímos o futuro. E
se a crença que temos de nós mesmos guia nossos atos, serve para dar
significado a nossas experiências e determina o sentido e direção que damos a
nossa vida (passado, presente e futuro), cambiar este tipo de mentalidade
fatalista implica, na prática, reinventar a maneira como nos formulamos a nós
mesmos, como atuamos no presente que nos rodeia e como elaboramos as
expectativas que depositamos no futuro.
Assim que uma boa maneira de começar a
mudar é aceitar a evidência de que é praticamente inconcebível e frustrante
desejar algo de todo coração, pensar, sentir e saber que existe uma oportunidade
de consegui-lo, e logo não fazer nada a respeito. Quando isso sucede, o
sentimento de “Eu devia ter...” resulta desconcertante e “sem sentido”, não um
consolo. Outra forma é procurar aprender a valorar e a sentir entusiasmo pelo
que se está fazendo, a desfrutar e formar parte do processo do que estamos fazendo, independentemente de qual seja o
resultado desejado. Por último, manter-se firme na busca de nossos objetivos e aceitar
o fato de que o verdadeiro êxito não é produto de nenhum ato mágico ou
milagroso, senão o resultado de muito, muito trabalho e esforço, estóica resistência
e entusiasmada dedicação.
Estas pequenas ações diárias, igual
que qualquer prática virtuosa, se acumulam com o tempo e acabam provocando
grandes diferenças. Pequenos câmbios que nos ajudarão a desenvolver mecanismos
que eliminem nossa tendência a sobrevalorar as faltas passadas, a minimizar nossas
habilidades presentes e a exagerar os obstáculos e as dificuldades do futuro. O
primeiro passo, portanto, é aprender a tratar-se bem a si mesmo; recordar que
somente temos essa vida em nossas mãos e que “o que será” dela depende de como
a cuidemos; entender que sentir compaixão por si mesmo não é o mesmo que sentir
lástima por si mesmo, senão preocupação, bons sentimentos, empenho em reduzir o
impacto de situações difíceis, mudar nossas atitudes com relação às
experiências negativas, conservar a auto-estima, a determinação e a esperança. Por
uma boa razão Voltaire fez dizer, a modo de conclusão, a seu herói Candide, perdido pelo mundo: “Devemos cultivar nosso jardim”.
Pois bem, uma vez assumido que podemos
reinterpretar e reescrever a natureza e o poder de nossas crenças, que o esforço
no presente é a única forma decente de seguir adiante no futuro e que o modo de
viver o hoje determina o ontem e o amanhã, oferecemos a continuação 14 argumentos (ou sugestões), baseados
em cuidadosas investigações empíricas (e alguma experiência pessoal), que
consideramos particularmente importantes para alcançar um compromisso
consciente com um ritmo e estilo equilibrado de estudo, uma necessária,
entusiasmada e perseverante dedicação, e a consequente preparação resultante do
esforço empreendido. Na verdade, tudo se resume a uma questão de atitude, a qual, como assinalaram já há
muito os estóicos, é algo que está sob nosso controle.
1.
Cada um é responsável de seu cérebro. Podemos ajudá-lo a desenvolver-se se o utilizamos
corretamente. Para que nos entendamos – e de forma muito simplificada: a
capacidade do cérebro para aprender, e portanto para cambiar-se a si mesmo, se
chama neuroplasticidade. Em contra do que postula o mito do cérebro imutável,
agora sabemos que o cérebro muda de uma maneira real e física em resposta a
cada experiência, a cada novo pensamento e, principalmente, a cada novo conhecimento
aprendido ou habilidade adquirida. O cérebro é um órgão plástico e os
mecanismos de aprendizagem e memória são os que fazem que tal coisa ocorra. Mas
não há que esquecer que uma “lei de ferro” rege os acontecimentos neuronais: o que não se usa, se perde. Assim que as
investigações mais recentes demonstram que o cérebro é mais parecido a um
músculo: muda e se fortalece quanto mais se utiliza. E uma vez que se fortalece
principalmente durante e mediante o apredizado contínuo, quanto mais exercites
tua mente com estudo e aprendizado, mais células cerebrais e mais comunicações
(conexões sinápticas) entre elas se desenvolverão. Aprender é um processo de
construção de redes ou conexões sinápticas; recordar é manter ou fortalecer
essas conexões. Portanto, da próxima vez que estiver estudando, imagine que seu
cérebro está estabelecendo novas conexões à medida que se enfrenta ao desafio,
se concentra no que está fazendo e aprende com atenção. Ao final de cada dia de
estudo mentalmente ativo e atento, tenha a certeza de que estará com um cérebro
cujos neurônios estão conectados de forma ligeiramente distinta a como o
estavam quando se despertou pela manhã.
2.
A genialidade requer tempo e esforço para desenvolver-se e segue uma trajetória
previsível. Todos temos um
enorme potencial para aprender conhecimentos e habilidades novas e para
melhorar as que já temos. A ilusão é que “é fácil fazê-lo” ou que podemos
aprender com um esforço mínimo. Da próxima vez que sentar para estudar entenda
antes que o verdadeiro aprendizado requer
disciplina, paciência, perseverança, dedicação e prática intensos. Tenha
claro que teus objetivos importam mais que qualquer outra coisa, sem se
preocupar com o difícil que possa parecer as circunstâncias às quais se
enfrentará. Assuma o esforço e a dedicação como uma força positiva e
construtiva, não como uma enorme e pesada carga, e mostre-se sempre cético com
relação às afirmações de que simples artimanhas podem liberar o potencial de
sua mente. O verdadeiro esforço é uma virtude que modela e enobrece nosso
caráter, um valor intrínseco que independe de resultados futuros. E se a
esperança é a expectativa de que as ações do presente produzam uns resultados
positivos no futuro, esforçar-se é a única via segura para ir desde donde estamos
até onde queremos estar.
3.
O que passa por nossa atenção esculpe nosso cérebro. Embora a atenção seja o recurso mais escasso da
mente, é o umbral para absorver o que estudamos. Estar atento significa
simplesmente ter controle sobre a atenção: poder colocá-la donde se deseja e
deixá-la ali fixa, até que nos decidimos dedicá-la a outra coisa. A atenção
focada é a única atividade que nos permite aprender de forma segura, sólida e
duradoura, e constitui o ingrediente clave para um bom rendimento. Quando a atenção
está fixa, também o está nossa mente: não se encontra distraída nem sequestrada
por qualquer coisa que lhe chegue à consciência, senão estável, assentada e
imperturbável. A atividade consciente acompanha a atenção, e a atenção está
relacionada com a plasticidade cerebral. Quando
aprendemos, é a atenção que nos permite alterar literalmente a mente e o
cérebro em relação com a nova informação. E ainda que diferentes o perfil
pessoal relacionado com a capacidade de atenção, empenhar-se em desenvolver um
maior controle sobre a atenção quiçá seja a maneira mais poderosa de adquirir
uma determinado conhecimento, consolidá-lo e armazená-lo em nosso cérebro, para
poder utilizá-lo no momento em que o necessitarmos.
4.
Personalidade autotélica. As
pessoas que desfrutam daquilo que fazem, que não deixam de aprender e melhorar
suas capacidades, que estão tão decididas a alcançar seus objetivos (por
difíceis que sejam) e que são capazes de afrontar as dificuldades e obstáculos
com essa implicação e entusiasmo, são as que lograram uma personalidade
autotélica ( uma atividade que vale a pena fazê-la por si mesma, porque vivê-la
é sua principal meta). E embora esse
tipo de personalidade não garanta que tudo sairá bem, seguramente servirá para
desfrutar muito mais da atividade enquanto a realizamos e para aprender muito
mais sobre o que estudamos do que quando o fazemos de forma desapaixonada ou
visando apenas o resultado. Resumindo, há que aprender a deleitar-se do processo e não cultivá-lo como um apego
romântico ao “sacrifício” ou encará-lo como um “sofrimento” justificado.
5.
Estudar todos os dias. Só a
prática constante transforma o aprendizado em algo sólido. Se aprendemos
mediante associação, memorizamos mediante a repetição. Quando centramos toda
nossa atenção no que estamos aprendendo e o praticamos de forma repetida,
persistente e com um esforço ascético, interiorizamos os novos conhecimentos e
começamos a convertê-los em familiares. A repetição contínua, elemento
essencial da prática, aperfeiçoa a memória do conhecimento correspondente, de
modo que ao final se pode obter uma excelência que transmite a profunda
satisfação pessoal e a confiança nas próprias capacidades e possibilidades
intelectuais: “Isso eu já sei!”. Portanto, há que estar sempre atento à sentença
de Aristóteles de que “somos o que
fazemos dia a dia; a excelencia não é um ato, senão um hábito”.
6.
Manter o equilíbrio. Dado que
nossos recursos atencionais são limitados, procurar manter o equilíbrio entre o
desafio e a capacidade de atuar é a maneira
correta para que se aprenda em
profundidade. Só nos concentramos no
que estamos fazendo quando o consideramos como algo que nos permite expressar
nosso potencial, isto é, que não extrapole nossos limites pessoais. Se os
desafios e capacidades estão equilibrados, experimentamos uma maior
sensação de controle sobre nossas ações
e a concentração requerida exclui a preocupação
acerca de todas as demais questões que passam a ser temporalmente
irrelevantes. A qualidade do que se aprende quando nos empregamos a fundo, física e mentalmente,
em estudar além de nossas reais possibilidades se verá reduzida, porque o
cérebro, incapaz de eliminar as contingentes distrações que nos afetam, não é capaz de assimilar tanta
informação quando a atenção resulta prejudicada por nosso estado de ânimo.
7.
Ler e escrever. Se escutar os demais
fosse igual a aprender, todos nós seríamos tão inteligentes que nem
suportaríamos. Como aprendemos por associação, isto é, utilizando o que já
sabemos para compreender o que desconhecemos, a leitura atenta é o meio mais
efetivo para lograr ocupar nossa percepção consciente em um pensamento,
raciocínio ou experiência, a meditar de forma repetida (memorizar) sobre temas
mais complexos, a seguir nosso próprio ritmo de estudos e a estabelecer
continuamente relações entre os conteúdos que estão diretamente vinculados. Da
mesma forma, fomentar a plena capacidade de escrever, de expressar-se, de atuar,
é uma eficaz ferramenta para refinar o pensamento. Escrever insere-se na
categoria de repetição elaborativa, porque ajuda a clarificar, a organizar e a
expressar o que se está aprendendo. Constitui um dos modos mais eficazes para
reforçar as informações significativas, assim como para associar e comparar
temas novos ou desconhecidos com outros que já nos sejam familiares. O
aprendizado pela leitura e a escritura, por favorecer uma atividade mais ativa
da mente, modifica com mais eficácia a estrutura cerebral.
8.
Formas de estudar. Muitos,
em função de seus recursos (cognitivos) e possibilidades o fazem lendo livros
esquemáticos, resumos, apostilas, anotações tomadas em aula, etc. Se a matéria
é complicada, voltam a repassá-la com a intenção de guardá-la “definitivamente”
na memória. Outros, ao contrário, se responsabilizam por completo de seu aprendizado
e sua motivação. Em lugar de dedicar-se a aprender de memória o conteúdo das
matérias, buscam os temas, os fundamentos, os “porquês” e os princípios
subjacentes às mesmas enquanto estudam. Revisam suas dificuldades e as corrigem
até estar seguros de haver compreendido completamente o tema. Estudam para
aprender, com a sensação de eficácia
pessoal, e não somente para superar uma
prova de concurso. Assim que embora certo grau de memorização seja necessário
para um concurso público, o aprendizado verdadeiramente valioso, útil,
consolidado e estável é aquele que disseca a matéria estudada não para
“decorar”, mas para tentar compreender.
9.
Sorri ou fracassa. Há que
estar atento à “ditadura” do
motivacional e não confundir o “pensamento
positivo” (um estado cognitivo, uma expectativa consciente, que não só faz
sentir-nos mais otimistas, senão que favorece que de fato as coisam saiam bem e
alcancemos nossas metas) com a esperança
( uma emoção, um desejo, um sentimento ou uma mera expectativa de que as ações
do presente podem produzir uns resultados positivos no futuro). Um realismo
vigilante - inclusive incorrendo em certo “pessimismo defensivo” – é o que se
necessita para afrontar os problemas reais com que nos enfrentamos, para
reconhecer nossas próprias limitações, para superar nossas dificuldades e as
más experiências, assim como para continuar a lutar contra os obstáculos que
nós mesmos criamos e outros que nos coloca a própria vida. O certo é que, não
ver sempre o lado bom das coisas ou não passar o dia controlando nossa atitude
positiva e revisando nossos pensamentos otimistas, não nos levará diretamente
ao “lado escuro”; ao contrário, nos fará mais cautelosos e resistentes.
10.
Utopia e idiossincrasia metodológica. Como cada cérebro é único, não há modos equivocados de
estudar; o método correto é o que melhor se adapte aos interesses,
oportunidades, necessidades e recursos cognitivo-afetivos próprios de cada
pessoa. Assim que cabe a cada um estabelecer para si o que entende por como deve estudar. Um método de estudo,
longe de produzir “milagres”, simplesmente pode ajudar a aclarar determinados
tipos de associações entre o que se sabe e o que não, facilitar a recuperação
do material já aprendido, expor as deficiências e mostrar as matérias olvidadas
com a conveniente brevidade, para permitir dedicar-se quanto antes a outros
aspectos do programa. Se observamos com precisão, resulta que não só há um,
senão que são vários os tipos de métodos que estão à disposição e que podem ser
úteis dependendo da situação particular e das possibilidades de cada um. O
certo é que não se aprende a nadar ou a tocar piano lendo um livro sobre o
assunto ou simplesmente atendendo aos conselhos de outras pessoas. Portanto,
com relação ao método, o mais prudente é admitir de uma vez por todas que se
aprende a estudar estudando. É na experiência concreta de estudar que se
descobre o melhor método pessoal para aprender, armazenar e para recordar a
informação, isto é, “o que temos de aprender a fazer, aprendemos fazendo”
(Aristóteles).
11.
A bons fins, bons meios. Os
atalhos não existem. É inútil pretender alcançar um fim difícil por meios
fáceis. Só é necessário sentido comum para ver que as melhores lições costumam
ser as mais difíceis. É preciso afrontar firmemente a desagradável tarefa de
não aceitar as opiniões dos que propõem tomar o caminho mais fácil do aprendizado
e se orgulham de estar tão “atualizados”
que podem transmitir e ensinar, de forma rápida, todo tipo de lixo intelectual.
Por mais atenção e tempo que exija, é sempre mais produtivo e eficaz insistir
em estudar por livros que estejam à altura dos critérios de rigor intelectual
cada vez mais exigentes dos concursos públicos. Abandonar a idéia de estudar
por livros que nos resultem mais fáceis e menos complexos é o primeiro passo
para tornar-se um candidato mais competente e preparado. Tudo aquilo que requer
esforço e perseverança é, neste sentido, difícil, e portanto, é algo que nos
faz melhores.
12.“Apagão emocional”. Apesar de que todos os argumentos antes mencionados
são essenciais, é importante ter sempre presente que sem uma adequada motivação qualquer ação que realizemos
não será completamente satisfatória. Quando se trata de estudo e aprendizado a
motivação é o «querer aprender».
Resulta fundamental que se esteja emocionalmente implicado com o desejo de
aprender; sem motivação, atenção diligente e repetição, todo esforço por
estudar será inútil. E ainda que a motivação se encontre limitada pela
personalidade de cada um, é importante ter presente que a força de vontade é como uma espécie de “músculo” que se vê
reforçado com o exercício e a prática. De fato, um estudo muito recente
demonstrou que o autocontrole e a força de vontade, ainda que com uma grande
influência da herança, pode ser tonificado exercitando-o; que se trata de um
circuito cerebral que funciona como os demais, que tem uma capacidade
determinada e que opera segundo determinadas regras que podemos controlar.
13. Fazer exercício. Trabalhos experimentais, também recentes, demonstram
que o exercício físico aeróbico (andar ou correr, e não de outro tipo), tanto
em animais de laboratório como em seres humanos, mantém sano o cérebro e
melhora tanto a memória como a capacidade para aprender. De fato, já são várias
as pesquisas em neurociência que confirmam que a exercitação aeróbica aporta um
considerável benefício sobre a cognição, em especial no que se refere ao
acréscimo (de maneira mais efetiva) do fluxo sanguíneo ao cérebro, para
aumentar a plasticidade sináptica (melhorar e aumentar as conexões entre
neurônios) e para estimular ao cérebro a produzir novas células nervosas - um
processo conhecido como neurogênese. E o mais curioso é que, para tanto, não é
necessário sequer treinar diariamente como para competir em um triathlon; com só caminhar a uma velocidade razoável durante 30
minutos ou mais algumas vezes por semana obteremos um melhor controle cognitivo
e um cérebro mais saudável. Enfim, ainda que não se aprove em nenhum concurso público
andando ou correndo diariamente, já é uma evidência científica que o exercício
(aeróbico) melhora em grande medida a cognição ao incrementar a aptidão de
nosso cérebro.
14. Sobre a “sorte”. Embora não se possa desconsiderar o fato de que a
sorte exerce uma influência dramática sobre nossas vidas e com um poder de
gerar expectativas muito maiores do que imaginamos, uma eficiente preparação
diante de uma esperada e possível ocasião favorável é, com toda segurança, a
que melhor se corresponde com a sentença de Sêneca de que a sorte “é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”,
ou a de Pasteur de que “A sorte favorece a mente bem preparada”. Assim
que, se trabalhamos adequadamente em nossa preparação, só há que ter paciência,
saber esperar até que chegue o momento adequado, saber aceitar em caso de que
não ocorra nada e superar no caso de que resulte ser diferente do que se
esperava. O realmente importante é despertar todos os dias com a entusiasmada
sensação de que estamos prontos para brigar por nossos objetivos e convencidos
de que a cada dia que passa estamos dando o melhor de nós mesmos para chegar a
ser o melhor que podemos chegar a ser.
É
evidente que nenhum “guia” assim, irremediavelmente incompleto, proporcionará
por si só o resultado esperado. Mas pelo menos nos ajudará a entender que somos
os únicos responsáveis de ser como somos. Isso significa que também temos o
poder de manter, modificar ou melhorar o “eu” a que estamos habituados. A má
notícia é que resulta infinitamente mais fácil acostumar-se ao que acomoda. A boa
notícia é que dispomos da capacidade de modificar nossos circuitos neuronais e
cambiar nossas redes neuronais para, literalmente, poder controlar os
sentimentos e pensamentos que dirigem nossos comportamentos e determinam a
forma de superar nossas dificuldades.
Neste
preciso momento já contamos com uma mente com todo o imprescindível para
perseguir e conseguir alcançar nossos objetivos. Nossa capacidade de aprender e
construir o futuro com que sonhamos nos outorga o poder necessário para
aprovarmos em qualquer concurso público. Depois de tudo, quando queremos
realmente lograr algo e cremos que podemos, nos esforçamos mais. Só falta que
dediquemos tempo para usar adequadamente esse poder.
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Ó Membro do Ministério Público da União /MPT; Pós-doutor
Ó Doutora em
Humanidades y Ciencias Sociales/ Universitat de les Illes Balears- UIB/Espanha;
Mestra em Cognición y Evolución Humana/ Universitat de les Illes Balears-
UIB/Espanha; Mestra em Teoría del Derecho/ Universidad de Barcelona- UB/
Espanha; Pós-doutorado (Filogènesi de la moral y Evolució ontogènica)/ Laboratório
de Sistemática Humana- UIB/Espanha; Investigadora da
Universitat de les Illes Balears- UIB / Laboratório de Sistemática Humana/
Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana/Unidad Asociada al IFISC
(CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas
Complejos/UIB/Espanha.
Ñ Este artigo corresponde a um resumo dos principias temas tratados no
livro que preparam os Autores sobre “Como
aprende o cérebro.
Argumentos...”.